Faltando quatro anos para o término do prazo no qual as emissoras de TV terão de migrar todas as suas transmissões para o formato digital, o governo admitiu pela primeira vez a possibilidade de adiar o chamado “apagão analógico” para depois de 2016. Embora a data esteja mantida, essa alternativa agrada os canais de televisão, mas preocupa as companhias de telecomunicações, que esperam poder ocupar esse espectro com serviços de banda larga.
No 26.º Congresso Brasileiro de Radiodifusão – realizado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) esta semana em Brasília -, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, reconheceu que a migração das transmissões de TV para o modelo digital tem sido mais lenta que o esperado e sinalizou que o governo poderá tolerar as transmissões analógicas por mais tempo, até que a maioria da população possa adquirir os conversores de sinal.
O problema é que a faixa de 700 mega-hertz (Mhz), utilizada no modelo analógico de TV, é disputada pelos próprios radiodifusores e pelas empresas de telecomunicações, que querem aproveitar a frequência para aumentar suas redes de internet banda larga e telefonia. Os dois lados pressionam o governo por uma definição sobre o chamado “dividendo digital”, mas a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) já avisou que essa decisão não sairá em 2012.
Enquanto isso, um extenso relatório preparado pela GSMA – uma espécie de consultoria global do setor de telecomunicações – destaca que o Brasil estaria perdendo espaço na quarta geração de telefonia (4G) para outros países latinos, como México, Uruguai, Argentina e Colômbia, que já destinaram os 700 MHz às teles.
Ideal. De Xangai, o diretor da GSMA para a América Latina, Sebastian Cabello, disse ontem ao Estado que a frequência da TV analógica é fundamental para complementar as faixas de 4G de 2,5 giga-hertz (GHz) arrematadas pelas operadoras no leilão realizado pela Anatel na semana passada. “Por ser uma frequência mais baixa, o 700 MHz precisa de muito menos antenas e seria ideal para ampliar a cobertura de quarta geração em um país extenso como o Brasil”, disse.
Para Cabello, as emissoras de TV querem manter a faixa sob seu controle porque têm medo da disputa com as transmissões de vídeo proporcionadas pelos celulares 4G. “Com a popularização dessa tecnologia, as receitas de publicidade acabarão sendo divididas. Mesmo assim, haverá espaço para os dois serviços. O que não pode acontecer é a prorrogação dessa barreira à banda larga”, completou.
Fontes do governo avaliam que um dos maiores desafios até 2016 no setor é viabilizar a migração para o padrão digital de mais de 10 mil retransmissoras espalhadas pelo País. Para evitar atrasos no fim das transmissões analógicas, o Ministério das Comunicações já discute com o BNDES a criação de uma linha de financiamento especial para esse grupo.
O setor de radiodifusão vê com bons olhos a hipótese de adiar o apagão analógico. Daniel Pimentel Slaviero, conselheiro da Abert, avalia que o cronograma de desligamento pode seguir o mesmo modelo adotado no processo de implantação da TV digital, que se iniciou em São Paulo e depois ocorreu no Rio, Brasília e outras capitais. “É natural que o processo possa ocorrer na mesma proporção, ou seja, desligando os grandes centros e deixando as cidades menores e o interior, onde foi implantado depois, para mais tarde”, afirmou.
Fonte: FNDC