Se os números da primeira pesquisa de preparação para a TV Digital já são preocupantes – o Ibope não soube dizer se metade ou dois terços da população de Rio Verde-GO está preparada para o desligamento analógico – mais ainda é a conclusão de que os brasileiros estão muito pouco informados sobre a transição tecnológica que já está em andamento.
“As surpresas são preocupantes. O brasileiro desconhece, não tem informação.Tem que criar a consciência na população de que o processo está acontecendo e, mais importante, vai ter que conseguir convencer as pessoas”, destacou o diretor de planejamento e uso do espectro da Abert, Paulo Ricardo Balduíno, ao debater a transição para a TV Digital durante o Painel Telebrasil 2015, em Brasília.
“E ainda estamos em um dos piores momentos para isso, em meio a uma crise econômica. Ainda assim, tem que se convencer que é bom para ele comprar e instalar uma antena antes do desligamento. Essa é uma grande preocupação nossa”, emendou Balduíno, ao sustentar a necessidade de uma presença mais clara do governo nas campanhas de informação.
“A campanha de transição tem que ter um pai ou mãe, um patrocínio para dar credibilidade”, insistiu o diretor da Abert. Há uma tentativa nesse sentido, mas em estágio relativamente inicial. O Gired, grupo que reúne operadoras móveis, emissoras de TV, Anatel e Ministério das Comunicações, abriu conversas com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
Enquanto isso, a EAD, responsável por operacionalizar a transição digital, iniciou uma campanha publicitária que vai ao ar desde a semana passada na goiana Rio Verde, a primeira cidade a ter os sinais analógicos de televisão desligados, o que é previsto para o dia 29 de novembro próximo. Haverá banners, outdoors e até propaganda em sacos de pão . Mas o apelo ainda é pequeno.
“Temos uma notícia difícil para passar para a população e com incentivos de difícil percepção. A qualidade pode não ser muito bem percebida em telas menores. A programação ainda é restrita e a interatividade não existe. O último incentivo é a perda do serviço, que é o que vai fazer as pessoas se moverem dentro do prazo”, acredita o presidente da EAD, Antônio Martelleto.
Plano B
O Ibope apresentou ao Gired a primeira pesquisa feita em Rio Verde. Faltando menos de 90 dias para o desligamento, o instituto não consegue medir com alguma precisão o estágio de preparação da cidade de 200 mil habitantes. Segundo a pesquisa, algo entre 24% e 53% dos domicílios estão aptos a receber os sinais digitais. Não por menos, a própria metodologia está sendo revista.
“Estamos tentando desenvolver aprendizado. Diferente de outros países, a metodologia também é diferente. Optamos por um modelo do PNAD, de pesquisa domiciliar”, justificou o presidente da EAD, por meio de quem é feita a contratação da pesquisa. Sem entrar nas residências, a pesquisa faz várias perguntas na tentativa de cruzar informações e descobrir se há recursos de recepção disponíveis (como ter TV por assinatura, por exemplo).
Até aqui não há ‘plano B’ para o caso de não ser atingido o percentual definido de 93% de domicílios aptos a receberem os sinais digitais antes do desligamento. “Essa é uma possibilidade remota. Neste momento o quantitativo não é grande de pessoas aptas, mas vai ganhar força chegando mais próximo do desligamento”, disse o gerente de espectro da Anatel, Agostinho Linhares.
“Se não chegar nos 93% vai ter que ter um plano B”, admitiu Linhares – embora não haja ainda uma definição nem de quantos dias antes da data limite deva ser feito o aviso de que o desligamento não ocorrerá. A ideia de adiar é rejeitada por ferir a confiança no cronograma. “O mais importante para o processo é desenvolver credibilidade e isso começa em Rio Verde. Se postergar lá, a credibilidade fica comprometida”, disse Martelleto.
Fonte: FNDC