Os radiodifusores acreditam que a maior parte das emissoras – e mesmo das retransmissoras – estará pronta para a migração marcada para 2016 e o consequente desligamento das transmissões analógicas. A dúvida, porém, é a mesma já ecoada pelo ministro das Comunicacões, Paulo Bernardo: os brasileiros não terão aparelhos digitais em casa.
“Do ponto de vista de emissoras como Globo, SBT, Band, Record, Canção Nova, Mix, o prazo será cumprido. Tem até emissora que pretende ter todas as geradoras fechadas na Copa [de 2014] e 30% das retransmissoras, o que é muito. Mas não adianta ter geradora e retransmissora digital se o aparelho na casa das pessoas não estiver funcionando”, afirma o diretor geral da Abert, Luis Roberto Antonik.
Antonik lembra que nos Estados Unidos a migração digital atrasou exatamente pela falta de aparelhos com capacidade de recepção digital. “Lá foi adiado duas vezes porque, quando chegou no primeiro corte, por exemplo, 30% dos americanos tinham receptor só analógico”, diz ele. “Os ministérios do Desenvolvimento, da Ciência e Tecnologia vão ter que pensar no equipamentos”, completa.
Não é que todas as dificuldades dos radiodifusores estejam superadas. Mas nesse caso há duas situações – as autorizações emitidas pelo Ministério das Comunicações para a operação digital e a carência de recursos, não só financeiros, mas mesmo de engenharia, de pequenas emissoras. “Quem pode ter problemas são as pequenas emissoras independentes e as educativas”, diz Antonik.
No caso das autorizações, uma força-tarefa iniciada no fim do ano passado vem acelerando os processos. “Até janeiro deste ano não tínhamos nenhuma retransmissora autorizada, agora temos mil. Eram apenas 103 geradoras, hoje já são 204”, calcula o diretor geral da Abert. O Brasil conta com cerca de 1,6 mil geradoras e 11 mil retransmissoras. Já as dificuldades das pequenas emissoras exigirão apoio do governo ou de associações como a própria Abert, ainda que não se tratem de empresas filiadas à entidade.
Para o diretor geral da Abert, o principal nó é mesmo a disponibilidade de televisores digitais nos lares brasileiros. “Só a partir de 2012 os fabricantes estão obrigados a fabricar televisores com conversor embutido. Mas temos 150 milhões de aparelhos de televisão no país e nosso mercado produz 14 milhões de TVs por ano, sendo que parte é reposição e a esmagadora maioria não tem Ginga, o que indica que a interatividade vai demorar”, avalia.
Em difícil negociação com os fabricantes, o governo também adiou a implantação de metas para o sistema operacional Ginga, desenvolvido no Brasil, e responsável pela interatividade na TV Digital. Pelo acerto, 75% dos aparelhos fabricados no país terão que trazer o Ginga a partir do próximo ano, percentual que sobe para 90% a partir de 2014.
Fonte: Convergência Digital