Se as perspectivas de adoção da faixa de 700 MHz pelos operadores de telecomunicações já enfrentavam a resistência dos radiodifusores, tudo indica que essa briga ganhará um outro componente. E dessa vez o argumento será técnico: segundo Fernando Bittencourt, principal executivo da área de tecnologia da TV Globo, o assunto mais impactante discutido durante a IBC, na semana passada, em Amsterdã, foi a constatação de que as primeiras transmissões móveis em LTE na faixa de 700 MHz estão interferindo na recepção de TV digital nos países que começaram a usar a faixa para banda larga móvel.
“O uso da faixa do primeiro dividendo pelo LTE, entre os canais 61 a 69, e a convivência lado a lado com a TV geram uma séria interferência na recepção dos canais. A ponto de você ligar o seu celular em casa e o sinal da TV ser interferido”, diz Bittencourt, apontando constatação realizada em diferentes países que já usam o dividendo digital para o serviço móvel. Segundo ele, o problema decorre do fato de que os aparelhos de TV, até aqui, receberem os sinais de toda a faixa de UHF, e quando essas faixas deixam de ser usadas pela TV, os aparelhos continuam suscetíveis às transmissões na faixa. “Isso tem causado atrasos na implantação dos serviços de TV e de LTE”, diz Bittencourt.
Segundo ele, uma solução óbvia é colocar filtros nos televisores. Mas isso só pode ser feito quando for concluído o processo de digitalização e devolução do dividendo digital. “Mesmo assim, não tem como resolver o problema do legado de milhões de televisores, e a cada dia aumentamos esse legado”.
Além desse novo argumento de interferência, Bittencourt apontou outros problemas para o uso da faixa de 700 MHz para a banda larga móvel. “O dividendo digital parte da premissa de que a TV aberta evoluiu tudo o que tinha para evoluir, o que não é verdade. Tecnologias como 4K, 8K e 3D mostram que ainda existe espaço para desenvolvimento. Além disso, a TV aberta é baseada, sobretudo no Brasil, em um modelo regional de produção de conteúdos. Esse mercado tem oportunidade de se expandir e mais canais serão necessários”.
Fonte: Tela Viva