Sim, a interatividade na TV Digital existe. Mas…
Dia desses, acompanhando um dos capítulos da novela “Avenida Brasil”e a troca de comentários no Twitter, vi o jovem René Silva, 18 anos, criador do jornal/portal “Voz das comunidades”, que circula no Complexo do Alemão, perguntar ao Luiz Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, o que era aquele “i”que havia surgido do nada no canto superior da tela da TV. Como Erlanger já havia se despedido e saído do microblog naquela hora, respondi.
Dias depois, quis saber do René o que foi que ele havia visto, e se havia gostado. Ele disse havia visto o aplicativo da novela e que havia gostado. Perguntei qual era o modelo da TV que estava usando. Ele me disse que era uma Sony, que sabia que era DTVi porque havia lido no manual, depois que o orientei a apertar a tecla vermelha da área de interatividade.
Na hora, não pude deixar de lembrar do projeto de lei que a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática havia acabado de aprovar. De autoria do deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), o PL 2622/07 torna obrigatória a divulgação, pelos fabricantes de aparelhos de televisão, de informações sobre a compatibilidade ou não desses produtos com o padrão de TV digital.
A TV da Sony comprada pela família do René não tinha o logo DTVi colado no gabinete. “Ele só aparece quando a gente liga a TV”, me disse.
Me lembrei também que a TV digital já está presente em todas as capitais do país, mas a programação interativa só está disponível no Rio e em São Paulo. E que nem todos os televisores compatíveis com o sinal de TV Digital são DTVi.
“A população precisa ser informada acerca de todas essas alternativas, para realizar escolhas compatíveis com seu perfil de uso e seu poder aquisitivo”, disse o relator do projeto na Câmara. Está corretíssimo.
Enquanto a população descobre por conta própria o que pode fazer com o padrão DTVi, fabricantes e emissoras perdem tempo discutindo pela opção ou não do Java no padrão Ginga. Uma discussão que, a meu ver, já deveria ter sido deixada para trás. Ganharíamos, todos, se testes em campo, com grupos de telespectadores de diferentes extratos sociais, estivessem em curso.
Televisores DTVi estão chegando aos lares e a população não tem noção do que são capazes de fazer, especialmente no que diz respeito à interatividade (ver infográfico abaixo). Em quantos lares do Complexo do Alemão o sinal digital chega com perfeição? Em quantos as aplicações interativas carregam sem problemas? Aqui em casa, em Moema, próximo ao aeroporto de Congonhas, tenho problemas. Imagina próximo ao Galeão?
Discutir essas questões é mais importante e urgente que discutir o uso do Java no padrão. Afinal de contas, com o incentivo do governo através do PPB, a indústria de software acredita que teremos 30 Milhões de TVs com Ginga no mercado em 2014.
O novo regulamento que rege a TV por assinatura publicado pela Anatel este ano já indica um incentivo à adoção do Ginga pelas operadoras de TV paga. O que leva a indústria de software a crer que as operadoras de TV paga tenham suas implementações Ginga nos próximos 2 anos. A possibilidade de uso do Ginga para uso de dispositivos como smartphones e tablets como segundo tela, diante da possibilidade de sincronização de conteúdo e interatividade, pode ser um atrativo. A Globo e o SBT já não escondem o desejo de usar o Ginga para prover interatividade na segunda tela e serviços de VDO (Video on demand).
O mesmo vale para o padrão 1-seg. Semana passada o Rafael Rigues, editor da PCWorld, começou a fazer testes com um novo modelo de celular da Motorola (o XT682) padrão DTVi. na redação, ali na Vila Olímpia, zona sul da capital paulista, só conseguimos carregar o aplicativo interativo da TV Cultura. Apenas em casa consegui ter acesso a outros aplicativos da TV Brasil e da Record (fotos abaixo). E, no fim de semana, durante os jogos do Brasileirão, ao aplicativo da Globo. Todas levaram muito tempo para carregar (mais de 4 minutos, sem exceção).
É hora de virar a página. Dos defensores do Ginga deixarem as discussões de lado e voltarem a desenvolver uma agenda positiva. Das emissoras usarem e testarem efetivamente a interatividade Ginga. Dos desenvolvedores entenderem o imenso potencial da plataforma.
Fonte: IDGNow