A Entidade Administradora da Digitalização (EAD) do processo de desligamento da TV analógica terá como primeiro desafio fechar o pedido de cotação do set-top box na configuração aprovada pelo governo, num total de 14 milhões de caixinhas, que serão distribuídas aos beneficiárias do programa Bolsa Família. Estima-se que, nas cotações atuais, o preço da caixa na configuração pedida seja em torno de US$ 35 a US$ 36, mas com a perspectiva de que esse valor deva cair para perto de US$ 30, com a compra em escala dividida em 2016, 2017 e 2018.
A caixinha escolhida terá o middleware de interatividade Ginga C, 512 kB de memória RAM e 2 GB de memória flash, não terá conexão bluetooth, WiFi, nem modem 3G embutido, mas tem uma porta ethernet para ser conectada à banda larga fixa, se houver. Haverá duas entradas USB e os drivers adequados para receber um modem externo (dongle) 3G, 4G ou bluetooth. A caixa terá uma saída HDMI, uma RCA e uma entrada RF, para conexão com a antena de TV. Os dois fluxos de vídeo, ao invés de serem ambos de MPEG-4, serão MPEG-4 para o sinal HD e outro em MPEG-1, usado para o picture-in-picture das transmissões em Libras (linguagem de sinais).
Apesar da avaliação de que o preço estimado cabe no orçamento da EAD, de R$ 3,6 bilhões, há um esforço para a redução ao máximo do custo da caixinha. Já a inclusão de serviços interativos de terceiros (como aplicativos OTT embarcados) encontra resistências não só dos radiodifusores como das teles, que não querem que o set-top seja uma porta para a concorrência de serviços já existentes.
Em outra frente, o governo está tentando turbinar o set-top com o modem externo, mas nesse caso a resistência vem de outra fonte: o Ministério da Fazenda. A dificuldade aí é o ajuste fiscal e as limitações orçamentárias. Sabe-se que o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), que é diretamente responsável pelos benefícios aos inscritos no Bolsa Família, deseja oferecer outros serviços e até poderia alocar orçamento para o projeto, mas tudo isso depende do cenário de cortes.
Próxima batalha
A próxima grande discussão política envolvendo o Gired (Grupo de Implementação da TV Digital, coordenado pela Anatel) será definir os critérios para os investimentos em publicidade, o que também é parte das obrigações da EAD. Uma das hipóteses é que a veiculação das campanhas de esclarecimento sobre o processo de desligamento da TV analógica aconteça usando a própria TV como mídia, mas há uma discussão latente sobre se essa campanha seria remunerada pela EAD ou se os radiodifusores, como parte diretamente interessada, teriam que arcar com o ônus e ceder espaço para a divulgação gratuita.
Fonte: Tela Viva