Anote aí: depois de algumas confusões tecnocratas, a obrigatoriedade do middleware Ginga nos celulares com receptor de sinais de TV Digital caiu para 2010, mas voltou em 2011. E assim deve permanecer, mesmo após o término da consulta pública do MDIC (Ministério do Desenvolvimento) a respeito.
“A interatividade não precisará estar em todos os modelos, mas aqueles que oferecerem o recurso deverão fazê-lo através do Ginga”, disse uma fonte do Ministério das Comunicações. “Não vamos abrir mão da maior conquista do sistema brasileiro de TV Digital”, completou.
Portanto, “a partir de 1º de julho de 2011, pelo menos, 5% da produção total de aparelhos celulares incentivados, por empresa, deverão ter capacidade de recepção de sinais de TV digital compatíveis com as especificações e normas do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre – SBTVD, inclusive com o middleware GINGA, de acordo com norma técnica nacional (NBR) aplicável”.
E depois de muitas articulações nos bastidores e da manutenção do bom senso, alguns setores já se movimentam para deixar bem claro na consulta pública que a norma técnica de interatividade aplicável aos dispositvos móveis (1-seg e celulares) é a que inclui o Ginga-CC+Ginga-NCL.
O Ginga para dispositivos fixos é composto de três partes: Ginga-NCL, Ginga-J e Ginga-CC. Para dispositivos portáteis, só duas: o Ginga-NCL e o Ginga-CC. Sugerir a possibilidade do Ginga-J no celular pode causar uma confusão enorme no mercado de desenvolvedores de conteúdo, dizem os especialistas.
“A norma para celular já é um subset do Ginga. Ela tem o Ginga-J como opcional”, me explicou um deles, revelando o próximo ponto de discussão para definição, no papel, do que o próprio mercado pode se encarregar de estabelecer.
Movimentos na academia e entre fabricantes pode ajudar o padrão de direito a se transformar em padrão de fato, bem antes da obrigatoriedade entrar em vigor. Na última SET 2009, o professor Luiz Fernando Soares, da PUC-RJ, despertou a curiosidade de radiodifusores e desenvolvedores de software ao demonstrar duas aplicações para uso de celulares como dipositivos secundários para interatividade na TV Digital e, futuramente, também aplicações IPTV.
A PUC já tem duas implementações do Ginga para plataformas Symbian e Android. Desenvolveu uma também para o iPhone. Elas integram o projeto de interatividade com multiplos dispositivos do pesquisador Marcio Ferreira Moreno, da PUC-RJ, agraciado em junho deste ano com o “Best PhD Award” na 7ª edição da Conferência de TV Interativa da Europa (EuroiTV 2009) justamente por esse trabalho.
“O uso de multiplos dispositivos para interação é outra característica exclusiva do SBTVD, graças ao Ginga”, afirmou Luiz Fernando Soares.
As aplicações de multidipositivos se dividem em duas classes: passiva e ativa. A classe passiva é a de que todo o controle ainda está no set-top-box (conversor). Tudo o que é passado nele é passado em todos os dipositivos, igual. A ativa, quando os dispositivos podem aplicações individuais. Cada usuário interage com uma aplicação diferente no seu dispositivo móvel.
“O mais relevante, nesses dois casos, é que para o uso do celular como dispositivo secundário ele não precisa ter o recurso de recepção do sinal 1-seg”, explicou o professor.
Para demonstrar aplicações de classe Ativa na SET 2009, o professor Luiz Fernando utilizou uma implementação da Universidade Federal do Espirito Santo (UFES) rodando em um HTC Magic com Android 1.5. Para aplicações de classe passiva, um iPhone equipado com o OS 3.0.
No caso da aplicação de classe ativa, o processamento é totalmente distribuído, com o Ginga rodando em todos os dispositivos. A comunicação com o que está sendo transmitido pela emissora pode ser tanto Bluetooth quanto WiFi.
No que diz respeito ao sistema operacional e a plataforma de desenvolvimento,o Symbian OS e o Linux Mobile, junto com suas linguagens nativas, são apontadas por muitos pesquisadores como as melhores opções para se fazer uma implementação do Ginga.
“No caso de aparelhos Symbian, basta baixar o Ginga-NCL nele e ele vai virar um multiplodispositivo”, explica Luiz Fernando.
Quem quiser tentar, pode se informar a respeito na comunidade Ginga, no Portal do Software Público. Lá também será disponibilizado, em no máximo um mês, as versões finais das implementações Ginga-NCL para Linux ou Windows.
“Significa que o seu PC, com pendrive 1-seg, também terá suporte às aplicações interativas já transmitidas pelas emissoras”, revela Luiz Fernando Soares.
Fonte: Convergênca Digital