Já ouviu falar no Ginga na TV Digital, mas não sabe bem o que é?
O Ginga, de uma maneira geral é um midleware (na entrevista abaixo você irá entender melhor isso) responsável pela interatividade na TV Digital, e na semana passada foi considerado pela UIT (União Internacional de Telecomunicações) como um padrão mundial de interatividade.
Agente Digital AOC: O nome Ginga veio mesmo do movimento da capoeira?
Watson (Ginga-DF): Ginga, como nós sabemos, é o principal movimento da capoeira, mas acredito que seja mesmo pela atitude que nós brasileiros temos e tenho mais certeza ainda que as pessoas que iniciaram esse projeto tiveram que ter muita Ginga para conseguir chegar aonde chegamos, então, penso que o nome tenha surgido dessa forma: mostrando a luta que tivemos para ter liberdade em nossa tecnologia de TV Digital, que acredito ser a melhor tecnologia de TV Digital existente no mundo hoje.
Agente Digital AOC: Desde quando existe o Grupo Ginga-DF? Como tudo começou?
Watson (Ginga-DF): O Ginga-DF surgiu depois de eu ter participado, em 2007, da oficina de multiplicadores que aconteceu na PUC-RIO para a semana Ginga Brasil. Aconteceu simultaneamente em mais ou menos 16 estados brasileiros. Após essa semana, junto com a Associação Cultural FAISCA, oferecemos cursos gratuitos e várias palestras para a comunidade da periferia de Brasília. Em 2008 surgiu o blog e a partir daí nunca mais paramos.
Agente Digital AOC: Para os interessados entenderem mais claramente, explique um pouquinho o que é o Ginga: ele pode ser considerado uma linguagem de programação? O que seria um middleware?
Watson (Ginga-DF): O Ginga é um Middleware para aplicações de TV Digital. Ele possui bibliotecas, máquinas de execução para as linguagens oferecidas para o desenvolvimento de aplicações. Middleware é a camada de software que fica posicionada exatamente entre a infra-estrutura (hardware) e o código das aplicações.
Agente Digital AOC: O que seriam as terminações Ginga-J, Ginga-NCL? Você poderia explicá-las?
Watson (Ginga-DF): As aplicações que executam no Ginga podem ser classificadas em duas categorias dependendo se o conteúdo inicial da aplicação é declarativo ou procedural. O ambiente de execução que processa aplicações NCL (declarativo) é chamado de Ginga-NCL e o ambiente que controla a execução de aplicações baseadas nas APIs Java TV (baseada no GEM, Global Executable MHP, que tem custos de royalties) e Java DTV (desenvolvido especialmente para o SBTVD e livre de royalties) é chamado de Ginga-J (procedural).
[Para informações mais detahadas, visite o site oficial: https://www.ginga.org.br]
Agente Digital AOC: Muitos já ouviram falar que o Ginga é primordial para a interatividade na TV Digital, certo? Mas como isso de fato acontece?
Watson (Ginga-DF): Certo. Hoje já temos mais ou menos 29 cidades brasileiras que transmitem TV Digital em alta definição, porém, nenhuma delas tem ainda interatividade em suas casas, exatamente porque não temos o Middleware Ginga embarcado (ou instalado) em seus televisores ou em seus set-top-box, e como falamos acima, o Ginga que é o responsável por toda execução dos programas interativos para a TV Digital, ou seja, sem o Ginga não tem interatividade.
Agente Digital AOC: O que são os perfis de interatividade para TV Digital? De que forma isso impacta o desenvolvimento de novas aplicações e sistemas para TV Digital? Torna mais fácil ou mais difícil esse desenvolvimento?
Watson (Ginga-DF): Os televisores equipados com middleware para a execução de aplicativos interativos de TV digital serão distribuídos em dois perfis no mercado. Os recursos que integrarão cada perfil de produto para a interatividade preservarão a identidade e a arquitetura baseada em NCL e Java DTV e o canal de interatividade poderá ser acrescido como uma funcionalidade independente.
O primeiro perfil terá recursos como texto, fotos e imagens animadas. Com estes recursos já é possível ter acesso a aplicações que permitam ao telespectador interagir com vários programas de TV.
O segundo perfil, contudo, será mais completo, acrescido da possibilidade de transmissão de aplicações de clipes de áudio e vídeo. Com isso é possível, por exemplo, ter funcionalidades como “tira-teima” de jogos de futebol em mini-telas ao lado da imagem principal, entre outros recursos – comerciais ou não.
A facilidade ou a dificuldade no desenvolvimento não sofrerá muito impacto não já que teremos duas frentes de desenvolvimento, uma as pessoas vão desenvolver em NCL e LUA que inclusive são linguagens legitimamente brasileiras e a outra em JAVA, talvez a grande dificuldade que se poderá ter é de encontrar profissionais qualificados para o desenvolvimento.
[Oportunidade: Identificamos diversos cursos sobre TV Digital pelo Brasil todo, e colocamos neste post. Vale a pena conhecer!]
Agente Digital AOC: Como está o desenvolvimento de aplicações interativas para TV Digital no DF? É um mercado crescente ou ainda aguardando uma maior popularização?
Watson (Ginga-DF): Será um mercado bem promissor como em todos os estados que tem e que terão TV Digital. Aqui existem algumas empresas desenvolvendo seus softwares e aplicações, mas com a popularização com certeza terá uma boa demanda para profissionais com qualificações em desenvolvimento de aplicações interativas para TV Digital.
Agente Digital AOC: Falando sobre a popularização da TV Digital no Brasil, o que você acha das novas medidas tomadas pelo Fórum SBTVD de lançamento de uma campanha para a massa conhecer melhor as vantagens do sinal digital?
Watson (Ginga-DF): Estava passando da hora de termos esse tipo de esclarecimento já estamos entrando quase no 3 ano de sinal digital disponível e pouco ouvimos falar sobre a TV Digital. Nem as grandes emissoras tiveram o interesse de estar falando sobre o assunto para a população! Hoje se você parar em um centro movimentado de alguma cidade e perguntar para as pessoas “O que você entende sobre a TV Digital?”, muitos não saberão te responder. Por isso acho que já deveria ter acontecido, espero também que não seja somente um impulso inicial de apenas 3 meses, isso tem que acontecer em todo processo de transição da TV Analógica para a Digital e sempre trazendo comerciais com informações atualizadas, porque não adianta nada fazer 4 vídeos e passar esses mesmos vídeos durante os 10 anos da transição.
Agente Digital AOC: O que você achou do Ginga ter virado padrão mundial de interatividade pela UIT (União Internacional de Telecomunicações)?
Watson (Ginga-DF): Sem dúvida isso foi muito bom para o nosso padrão de TV Digital. Com isso, o Ginga conseguiu um reconhecimento internacional, afirmando nossa qualidade. Tornou-se o quarto padrão internacional para interatividade ao lado de ATSC – norte americando, do DVB – Europeu e do próprio ISDB.
Esse reconhecimento também favorece para que países que estavam em dúvidas sobre a adoção de nosso padrão tenham agora mais um motivo para adotá-lo, inclusive nessa última sexta feira o Equador oficializou a adesão ao SBTVD e já existem também outros países da America Latina e África interessados, e que venham mais!!!
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Watson Odilon é Coordenador do Grupo Ginga-DF, professor Universitário, Analista de Sistemas pós graduado em Sistemas Orientados a Objetos pela UNB e Candidato a Mestre pela UNB, com mais de 8 anos de experiência em desenvolvimento de sistemas e com 3 anos de experiência em TV Digital atuando como professor, desenvolvedor e palestrante.
Fonte: O Futuro é Digital
Link entrevista: https://www.ofuturoedigital.com.br/blog/2010/03/ja-ouviu-falar-no-ginga-na-tv-digital-mas-nao-sabe-bem-o-que-e/