Não, este não é um artigo sobre futebol ou carnaval. Ginga, no caso, com G maiúsculo, aponta para o jogo de cintura de pesquisadores brasileiros da TV digital. Requisitados pelo Governo brasileiro, eles desenvolveram um meddleware de interatividade para a televisão digital terrestre, aquela cujo sinal não vem por cabo ou por satélite.
O Brasil, que adotou o padrão japonês de TV digital e que lhe acrescentou a interatividade do Ginga, acabou criando um novo padrão, ideal para países mais pobres, onde a televisão é predominantemente aberta, de recepção gratuita. O modelo nipobrasileiro, aplaudido no mundo, é seguido por um número cada vez maior de governos, sobretudo na América do Sul.
Com o Ginga, o mundo pobre dá um drible desconcertante no imperialismo transnacional e samba diante da ameaça de mais exclusão digital. Menos o Brasil. O Governo brasileiro ainda não efetivou o meddleware
da interatividade, tampouco definiu as especificações da caixa conversora, que recepcionará o sinal digital, quando o sistema analógico for desligado.
O Ginga, previsto inicialmente para integrar o conversor a ser distribuído gratuitamente aos 14 milhões de titulares do Bolsa Família, está sendo deixado de lado, num retrocesso às conquistas do movimento pelo direito à comunicação e pela inclusão digital. Empresários de comunicação e de telefonia preferem a distribuição de um zapper, um mero sintonizador.
Numa terceira via, está em teste um conversor pobrinho, chamado de “light”, sem as gorduras que fazem rodar muitos dos aplicativos de interatividade, como nos países mais ricos, como na TV dos mais ricos. Esta caixinha seria apenas para os inscritos no Cadastro Único, das cidades com mais de 100 mil habitantes. Grandes populações de municípios do Norte e do Nordeste estariam excluídas.
Uma Carta Aberta foi enviada à presidente Dilma Rousseff, pedindo que o Governo mantenha decisões anteriores e mantenha o Ginga pleno e a caixa conversora para o Bolsa Família. O Observatório Latino-Americano da Indústria de Conteúdos Digitais e a Associação do Pós-graduandos da UnB e o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé estão entre as entidades que assinam o manifesto.
A sociedade precisa se apropriar deste tema e se posicionar diante de um governo que pisa na bola frente aos interesses privados. E que desafina no samba enredo da inclusão digital, que é também uma inclusão social e política.
Fonte: O Povo