Embora o governo insista que não haverá problemas no uso da faixa de 700 MHz pela telefonia móvel, os engenheiros de televisão ainda temem que as interferências afetem a convivência entre os dois serviços, especialmente em questões que até aqui não devidamente endereçadas. Em particular, no uso simultâneo de smartphones diante da TV.
“Se o usuário assistir televisão com terminal próximo, vai interferir. Estamos constatando isso nos testes que estão sendo feitos. E proibir a população a usar terminal LTE quando assiste tevê parece complicado”, afirma o engenheiro de sistemas de comunicação da Abratel, André Felipe Seixas Trindade.
Dificuldade séria visto que mais de um terço dos internautas brasileiros divide a atenção entre as telas da televisão, dos tablets, smartphones e computadores, conforme pesquisa divulgada pela Google no ano passado sobre o uso de “multitelas”. Em particular, 68% usam TV e smartphones ao mesmo tempo.
Segundo a Abratel, resultados já divulgados pela própria Anatel demonstram o problema. “Os testes feitos em Santa Rita do Sapucaí [MG], no equipamento de um grande fabricante, mostra que o filtro foi eficaz no downlink LTE, mas não para proteger a recepção de TV Digital da interferência no uplink.”
Há um outro problema adicional, como acentua a diretora de tecnologia da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, Ana Eliza Faria. “Exemplos internacionais são relevantes, mas é importante olhar o habito brasileiro. E temos a tradição de assistir televisão com antena interna e com o celular do lado.”
Segundo ela, uma recente pesquisa realizada pelo Ibope em São Paulo demonstra que “50% das pessoas tem como única forma de assistir a TV aberta ‘pelo ar’, as mais expostas a interferências. O mais importante é que 25% dos domicílios dependem exclusivamente de antena interna para a recepção dos sinais”.
O uso disseminado de antenas internas tem o agravante, no caso, porque elas já trazem filtros integrados e não comportam filtros adicionais – e esses são apontados pela Anatel como a principal solução contra as interferências prejudiciais entre 4G e TV Digital.
“Há temor entre os engenheiros, porque apesar das promessas de que não vai afetar cobertura e qualidade na introdução do LTE, sabe-se que as etapas de preparação estão sendo encurtadas, o que traz insegurança técnica ao processo”, lamenta a diretora da SET.
Fonte: Convergência Digital