1- Fale sobre o Grupo Ginga-DF. Como surgiu? Porque? Qual o objetivo?
O Ginga-DF surgiu depois de eu ter participado, em 2007, da oficina de multiplicadores que aconteceu na PUC-RIO para a semana Ginga Brasil, onde fui representando a Associação Cultural FAISCA em que sou membro, para fazer parte de um grupo que passaria por uma formação com o objetivo de se tornarem multiplicadores desse conhecimento. Essa oficina aconteceu simultaneamente em mais ou menos 16 estados brasileiros. Após essa semana, junto com a Associação Cultural FAISCA, oferecemos cursos gratuitos e várias palestras para a comunidade do DF.
O grupo tem como objetivo estar reunindo pessoas interessadas em falar sobre a TV digital e diminuir a distância que existe entre a sociedade e a tecnologia, essa distancia fica ainda maior quando se trata de pessoas afastadas dos centros e com acesso limitado a internet.
2- O que é o Ginga?
Ginga é um Middleware para aplicações de TV Digital adotado pelo Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD) e que será instalado em conversores (set-top boxes) e em televisores. Ele possui bibliotecas, máquinas de execução para as linguagens oferecidas para o desenvolvimento de aplicações. Middleware é a camada de software que fica posicionada exatamente entre a infra-estrutura (hardware) e o código das aplicações.
3- Quais são as suas formas?
O sistema é subdividido em três subsistemas principais interligados (Ginga-CC, Ginga-NCL e Ginga-J), que permitem o desenvolvimento de aplicações seguindo dois paradigmas de programação diferentes (declarativo e procedural).
Ginga-CC (Ginga Common-Core) oferece o suporte básico para o ambiente declarativo e procedural e tem como principais funções a exibição dos objetos de mídia JPEG, MPEG-4, MP3, GIF, o controle do plano gráfico, o tratamento do canal de interatividade, entre outras.
O ambiente de execução que processa aplicações NCL (declarativo) é chamado de Ginga-NCL, que é uma aplicação XML com facilidades para a especificação dos aspectos de interatividade, sincronismo espaço-temporal entre objetos de mídia, adaptabilidade, suporte a múltiplos dispositivos e suporte à produção ao vivo de programas interativos não-lineares.
Já o ambiente que controla a execução de aplicações baseadas nas APIs Java TV (baseada no GEM, Global Executable MHP, que tem custos de royalties) e Java DTV (desenvolvido especialmente para o SBTVD e livre de royalties) é chamado de Ginga-J (procedural) que possui facilidades especificamente voltadas para o ambiente de TV digital.
Para informações mais detalhadas, visite o site oficial: https://www.ginga.org.br
4- Em que ponto está o desenvolvimento deste middleware?
O Ginga-NCL desenvolvido pela Puc-RJ já está pronto para ser utilizado enquanto a o Ginga-J desenvolvido pela UFPB esta sendo refeito utilizando a API JavaDTV livre de royalties esse acredito que em breve estará disponível para uso.
5- De que forma o Ginga interfere na interatividade?
Você já ouviu falar da frase: “TV Digital interativa se faz com Ginga”, então se você possui um equipamento (seja ele uma TV, um celular, etc…) que receba sinal digital e não tenha o Ginga instalado (ou embarcado), você só recebera o sinal digital tendo uma melhora significativa em sua imagem, porem você não conseguirá ter interatividade, ou seja, sem Ginga sem Interatividade.
6- Qual a vantagem que o Ginga pode trazer para o sistema digital?
O grande diferencial do Ginga para os outros padrões de TV Digital existentes no mundo é a Portabilidade, Mobilidade, Interatividade e o Som multicanal (5.1), sem dúvida essas são as grandes vantagens que o Ginga está trazendo, sem dizer que é hoje o padrão de TV Digital mais avançado que existe que inclusive é recomendado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), órgão de padronização e regulamentação em telecomunicações ligado às Nações Unidas.
7- O que é TV digital?
É a tecnologia de transmissão de sinais de televisão em códigos binários 0 ou 1 como nos computadores, que proporcionará gratuitamente ao telespectador melhor qualidade de áudio e vídeo entre vários novos benefícios, como assistir televisão em movimento (dentro do carro, do trem, etc…) e interagir com os programas.
8- Como faço para acessar a TV digital?
Para acessar os canais em alta definição, é necessário ter um conversor digital (set-top box) ou uma TV com conversor embutido e uma antena UHF. Para obter a melhor qualidade das imagens de alta definição, também é preciso ter um aparelho de TV com tecnologia Full HD (1.920 x 1.080).
Como dito acima, isso não quer dizer que o telespectador terá interatividade, interatividade só com Ginga, caso não tenha o Ginga embarcado no equipamento terá somente a melhora do sinal.
9- Quais são as possibilidades que a implantação de um sistema de TV digital traz para o país?
As mudanças provindas da digitalização vão alem da melhoria da transmissão ou da programação, esta nova opção possibilita inovações em múltiplos campos, dando novas utilidades ao televisor ou mesmo dando a outros equipamentos eletrônicos a oportunidade de atuarem como reprodutores de sinal digital televisivo.
A adoção de uma plataforma nacional de middleware de código aberto, como o Ginga, que inclusive já foi adotado por vários países da América Latina e já existem outros países interessados fora do cone sul, como a África, possibilita a geração de empregos com mão de obra qualificada, dando mais incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento, fortalecendo e expandindo o mercado de software e conteúdo interativo dentro e fora do Brasil, mercado esse de alto valor agregado.
Mas essas possibilidades vão muito além disso…..
10- Quais são os diferenciais técnicos do sistema de TV digital? Muda o formato dos programas?
Os diferenciais foram respondidos no item 6.
O formato muda sim, os programas gravados e transmitidos em alta definição têm formato 16:9 (relação entre largura e altura da tela), como no cinema. Na transmissão analógica, o formato é mais quadrado: 4:3. Com a TV digital, será possível ter um ângulo de visão maior nos televisores mais modernos. Segue uma imagem para ter idéia de como isso acontece:
11- O padrão de alta definição torna mais difícil a produção de programas por pequenas emissoras?
Com o avanço e o barateamento das tecnologias digitais de produção audiovisual, um grupo maior de pessoas, coletivos e comunidades passam a ter acesso aos mecanismos de produção audiovisual com altíssima qualidade de áudio e vídeo com um pouco mais de facilidade.
Creio que ajudará no caso das comunidades que antes tinham chegar até uma grande emissora de televisão para apresentar seu conteúdo televisivo e ainda receber um não como resposta, com os canais públicos disponíveis essas comunidades poderão estar transmitindo seu conteúdo televisivo para sua e outras comunidades apresentando assim a diversidade cultural existente em nosso pais.
12- Como será a interatividade?
Quando for implementada você poderá interagir com o programa que estiver assistindo, como por exemplo, saber quem são os principais atores e a sinopse do filme, ou comprar um produto que aparece na tela e lhe interessa, ou participar de uma enquete. Serão muitas as opções só vai depender da necessidade e da criatividade dos fornecedores de conteúdo.
13- A que ponto está a aplicação da interatividade? O que falta para iniciar sua implantação?
A norma Ginga foi fechada recentemente e todo receptor deve estar em conformidade com a Norma da ABNT (NBR 15.606-1:4), agora estamos dependendo praticamente da indústria de recepção e software. A argentina começou esta semana a distribuição gratuita de 600 mil conversores, quem sabe não vamos importar conversores da Argentina com tecnologia nacional.
14- O que é multi-programação?
É a possibilidade das emissoras transmitirem mais de um programa simultaneamente – ou até mesmo ângulos de câmeras diferentes em um jogo de futebol na copa do mundo por exemplo. Com isso às emissoras tem a possibilidade de explorar desde alta definição até vários programas dentro de um mesmo canal.
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Watson Odilon é Coordenador do Grupo Ginga-DF, membro da Associação Cultural FAISCA, professor Universitário, Analista de Sistemas pós graduado em Sistemas Orientados a Objetos pela UNB e Mestrando pela UNB, com mais de 8 anos de experiência em desenvolvimento de sistemas e com 3 anos de experiência em TV Digital atuando como professor, desenvolvedor e palestrante.