abr 13

Depois de passar os dois últimos dias tentando ouvir o Fórum SBTVD sobre os motivos que o levou a não anunciar oficialmente a decisão do Conselho deliberativo pelo uso do middleware fixo completo, incluindo a nova especificação do Ginga-J, decidi publicar a entrevista feita na terça-feira,07/04, com Paulo Riskalla, líder da área de Software OEM da Sun Microsystems para América Latina.

Do Fórum continuei ouvindo esta semana que “nada foi decidido, ainda”, “não há sobre o que falar”, “e a decisão não deve sair esta semana, só na próxima”, embora muitas fontes confirmem o contrário.

Procurei a Sun, então, para tentar entender, exatamente, o que é o Java DTV. E tentar saber que custos sobre ele poderiam ser objeto de uma negociação que, segundo algumas fontes, estaria atrasando o anúncio oficial do Fórum SBTVD.

Riskalla foi didático e objetivo.

“Java DTV é um conjunto de APIs, que pode ser considerado uma única API dentro do Ginga-J e que, funcionalmente, substitui o GEM. Sua especificação foi criada a quatro mãos, pela Sun e um grupo definido pelo Fórum”, diz. “A especificação é, portanto, de co-propriedade da Sun e do Fórum SBTVD. O Fórum tem a possibilidade de harmonizar a especificação com os outros módulos do Ginga e, se quiser, fazer a implementação ou apenas determinar que empresas o façam. O Fórum também pode definir que tipo de licença deverá reger essa implementação”, explicou.

Então, não há nenhuma cobrança da Sun para o Java DTV?

“Não há custos sobre a especificação”, responde Riskalla. Pode haver cobrança sobre uma implementação. O Fórum pode pedir que a Sun ou qualquer outra empresa faça uma implementação de referência. Para isso há custo. Há custo para o desenvolvimento da implementação comercial e pode haver cobrança por ela. Mas não houve qualquer pedido do Fórum para a Sun nesse sentido”.

E a própria Sun, vai fazer uma implementação comercial da especificação Java DTV? _ quis saber. Segundo Riskalla, isso é uma possibilidade, mas ainda não está nos planos da companhia. O que a Sun fez foi deixar disponível para download em seu site a versão 1.0 da especificação que foi entregue ao Fórum. “Posso te dizer que, desde março, quando foi liberada, já tivemos um pouco mais de 600 downloads”, afirma Riskalla.

Mas se a Sun ainda não tem planos de fazer uma implementação comercial, e submetê-la ao Java Community Process (JCP) e ao Sun Certified Programmer (SCP) para que vire uma JCR certificada, alguma outra empresa pode fazê-lo? “Sim. E passar a cobrar de qualquer um que faça uso da tecnologia aprovada lá”, explica Riskalla.

Sobre o quê, então, há custos na relação da Sun com o Fórum?
Riskalla explica que há cobrança sobre implementações comerciais da Sun usadas no middleware, como a máquina virtual Java, o Java TV e o JMF. “E posso assegurar que por termos interesse em ver o mercado brasileiro e latino americano crescer, definimos um valor bastante agressivo, competitivo, diferente de tudo que trabalhamos no mundo. É um valor para o teto, que pode cair em negociações envolvendo grandes volumes. Um valor para ajudar o mercado a decolar”, explica o executivo.

Sobre esses valores, e a a possibilidade de queda deles em uma provável nova rodada de negociação do Fórum com a Sun, Riskalla não pode falar. Mas sua entrevista me levou a fazer outra série de perguntas para fontes do Fórum, integrantes ou não do Conselho Deliberativo.

Que APIs integram o GEM e do MHP foram substituídas pelo Java DTV?

Saem as APIs Havi e Davic e entram inovações brasileiras como a inclusão das APIs LWUIT, para tratamento de interface, que possibilita levar para a TV conquistas das interfaces dos celulares como ícones que rodam, mudam de lugar, etc.

“GEM” e “MHP” são a espinha dorsal especificações da interatividade camada do Blu-ray, da plataforma “tru2way”, e de middlwares adotados na Itália, Coreia, e outros países europeus. O que o Brasil está propondo é uma espeinha dorsal nova, royalty-free/open. Razão de um dos maiores argumentos favoráveis do Java DTV é o fato do Brasil ter a oportunidade de deixar de ser um seguidor de tecnologias, pora se tornar um propositor.

Quem propôs a renegociação de valores com a Sun?

A Eletros, representante dos fabricantes de televisores e conversores. A Eletros sempre alimentou o desejo de ter o menor preço possível para os componentes de software. O estranho é que componentes como a Máquina Virtual Java não são de fornecimento exclusivo da Sun. Podem ser adquiridos de outros fabricantes. E o próprio desenvolvedor do middleware pode fazer tudo do zero, já que todas as APIs são públicas. Segundo algumas fontes, é possível desenvolver um middleware do zero. E arcar apenas com os custos de certificação, para poder usar marcas como Java, entre outras.

O Fórum SBTVD tem interesse em desenvolver uma implementação de referência do Ginga-J com o Java DTV?

Essa possibilidade chegou a ser discutida e depois perdeu força para a corrente que defende que o Fórum SBTVD investa no desenvolvimento de uma suite de testes de conformidade para implementações do middleware Ginga. Até porquê, teoricamente o projeto Ginga CDN, financiado pelo governo, deve desenvolver uma implementação Ginga de referência e dar contibuidade às pesquisas de novas tecnologias que possam vir a ser incorporadas ao middleware Ginga. Um trabalho que deverá render os primeiros frutos em um ano, no cenário mais otimista.

Perguntas ainda sem resposta

Durante toda a semana procurei confirmar com o Fórum SBTVD os motivos que levaram ao adiamento do anúncio de escolha do Ginga-J com o Java DTV. Como o Java DTV faz uso de APIs da implementação Java TV, onde existe cobrança de licenciamento por parte da Sun, é bem possível que a negociação pendente com a empresa passe por aí.

De todo modo, a opinião geral era a de que este detalhe deveria ter sido negociado lá atrás, em março de 2008, quando da assinatura do memorando com a Sun. E não agora.

Há quem veja nesse pedido uma manobra para voltar a atrasar todo o processo.

Definido o uso do Java DTV, o Módulo Técnico do Fórum SBTVD precisa consolidar o trabalho de especificação do Ginga-J e submetê-la mais uma vez à aprovação do Conselho Deliberativo. Os mais otimistas dizem que isso deve acontecer na próxima reunião do Conselho, no dia 27 de abril, uma vez que dia 21 é feriado e, no meio de caminho, muitos de seus membros esatrão no NAB Show, em Las Vegas.

Caso aprovada na reunião do dia 27, a especificação do Ginga-J segue para consulta pública na ABNT e referendo do Comitê de Desenvolvimento. Processo que deve consumir todo o mês de maio, já que demora no mínimo 30 dias.

Resumo da ópera: dá tempo para ter conversores com middleware no mercado antes do Natal?

Os mais otimistas dizem que sim. Os pessimistas dizem que não. E que se a interatividade for postergarda para 2008, será muito mais complicado defender o padrão brasileiro nos países latino americanos.

Fonte: Convergência Digital

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