Se teles, tevês e governo ainda se debatem sobre o leilão dos 700 MHz, a venda da faixa para operações em telefonia móvel pode dar um passo importante em uma política até aqui meio esquecida: a massificação da interatividade na TV Digital. Pelo desenho traçado até aqui, as teles acabarão financiando a disseminação de conversores que incluem o sistema Ginga.
“Vamos entregar 14 milhões ao Bolsa Família. E não apenas o conversor, mas aplicações em desenvolvimento com a EBC, com canal de retorno inicial em 3G, depois 4G. Não será apenas um conversor passível, mas um conversor inteligente. Vamos transformar um equipamento digital em plataforma multimídia”, sustenta o vice-presidente da Anatel, Jarbas Valente.
Para quem acompanha o, na prática, abandono ao sistema operacional desenvolvido no Brasil – ou middleware – Ginga, a notícia é um alento. Quando a Anatel fala em ‘aplicações em desenvolvimento com a EBC’ – a Empresa Brasil de Comunicação – na verdade se refere aos set top boxes desenvolvidos para o que até aqui é um projeto piloto batizado de Brasil 4D.
Segundo o Banco Mundial, o 4D vale à pena. Testado inicialmente com 100 famílias pobres da Paraíba, teve boa receptividade, uso intensivo e utilidade em aplicativos de procura de emprego, informações de saúde, marcações de consultas. Este ano foi levado a Brasília. Quem toca o projeto atrela, naturalmente, o sucesso da interatividade ao uso da versão “cheia” do Ginga.
“A questão passou a ser estudada com afinco pela Anatel. O uso de interatividade em sua versão full, não apenas com receptores que utilizam somente a Internet para transmitir e receber dados, mas operá-los, via radiodifusão, para os downloads de aplicativos HTML e audiovisuais, está sendo vista com bons olhos”, diz o superintendente de suporte da EBC, André Barbosa.
Como ele avalia, “a criação de um processo de contrapartidas em relação ao desalojamento dos canais de radiodifusão tem obrigado a todos a dedicar sua atenção a soluções eficientes, baratas, práticas e, especialmente, convergentes”. Em outras palavras, uma oportunidade de garantir a instalação de TV Digital com interatividade em 14 milhões de lares – um em cada cinco domicílios do país.
A EBC vem utilizando a implementação desenvolvida pela Totvs como base para avançar nesse “Ginga C”, às vezes apelidado de “Ginga Inovação”. “O Ginga C não foi ainda transformado em norma da ABNT, ainda restrita ao Ginga 1.0, das tevês, mas já é norma da UIT portanto sua implementação no Brasil não é nem um pouco difícil”, sustenta Barbosa.
Até aqui a ambição é bem mais modesta que o desenho descrito pela Anatel e envolvia a inclusão do conjunto de conversor com Ginga C e antena UHF no 1 milhão de residências contratadas do Minha Casa Minha Vida. Nessa ideia, haveria financiamento por bancos públicos como forma de fidelização de futuros correntistas aos aplicativos financeiros.
Esse set top box traz algumas inovações, como a possibilidade de se medir em tempo real tanto o acesso dos aplicativos interativos como a própria cobertura, qualidade do sinal e audiência. A ‘caixinha’ tem entrada HDMI e duas entradas USB – uma para um dongle (como um modem) 3G (ou 4G) e outra para ligação com a TV conectada. Também é previsto um dispositivo HTTPS para criptografia.
Nessa conta de 1 milhão de conversores, o preço chegava a R$ 180 por “kit”, com antena. A promessa da Anatel de levar elevar a escala para 14 milhões de set top boxes certamente afetará essa relação, reduzindo o custo por unidade. Resta saber como será feita essa distribuição, visto que o governo vem adiando a divulgação do cronograma de desligamento da TV analógica – e, portanto, quantas novos conversores serão distribuídos a cada ano.
Fonte: Convergência Digital