mar 08

Ginga: TV Digital, retrocesso à vista?

ginga, notícia, TV digital Comentários desativados em Ginga: TV Digital, retrocesso à vista?

Inovação tecnológica brasileira, que pode permitir acesso importante a serviços através da TV, está sendo sabotada por lobby de empresas de telecomunicação. Governo parece capitular

Desconhecida por grande parte da população, o projeto da TV Digital no Brasil, que pode garantir o acesso a serviços básicos a um grande número de pessoas, está sendo jogado para escanteio. Ela permite que os receptores de TV sejam capazes de apresentar conteúdo audiovisual de alta definição e executar aplicações variadas, transmitidas pela emissora. Regulamentado no governo Lula, em 2003, sob os princípios de garantir “a promoção da inclusão social” e “a democratização da informação”, o inovador Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) corre riscos devido ao lobby de grandes empresas de telecomunicação.

Na última reunião do GIRED, entidade criada pelo governo para planejar a transição do sistema de TV analógico para o sistema digital (também conhecido como switch-off), apresentaram-se mudanças drásticas no planejamento. Ela atrasa não apenas o cronograma de digitalização da TV no Brasil, como também afeta a distribuição de receptores digitais para os beneficiários do Bolsa Família, previamente planejados pelo governo.

Essa nova resolução revoga diversas outras portarias, estabelecidas anteriormente (Portaria MC nº 477, Portaria MC nº 481, Portaria MC nº 2.765, Portaria MC nº 3.205, Portaria MC nº 1.502). Nas antigas, estipulava-se o prazo da mudança para o sinal digital para até 2018, no Brasil inteiro.Também estava planejada a distribuição de 14 milhões de receptores com interatividade plena (chamada de Ginga C) para beneficiários do Bolsa Família. Segundo o novo cronograma, entretanto, a grande maioria das cidades não fará a transição completa no prazo. Em 2016, apenas as cidades de Rio Verde e Brasília terão o sinal analógico desligado. Já em 2017 e 2018, as capitais e regiões ricas do país farão o switch-off. As demais cidades terão, com sorte, o sinal analógico desligado no prazo até 2023. Além disso, com a nova portaria, somente 5,8 milhões de receptores com interatividade plena serão distribuídos para os beneficiários do bolsa família até 2018 — um corte de quase dois terços.

Com essas mudanças, é possível observar uma nova posição do Governo. Ao favorecer os grandes centros urbanos desta maneira, deixa claro que está visando garantir os interesses das empresas de telecomunicações. Nas grandes cidades, estas megaempresas (que tem assento cativo no GIRED) têm forte interesse na digitalização da TV por conta da consequente liberação do espectro na faixa dos 700MHz — necessária para a expansão comercial de serviços 4G. Para as cidades menores, nas quais os serviços de 4G não são comercialmente interessantes, decidiu-se que não é necessário ter pressa.

Mas é exatamente nas regiões desfavorecidas que a tecnologia seria de mais importância. O Ginga C, criado na PUC do Rio de Janeiro, é a única inovação de SBTVD feita no Brasil, com base no modelo japonês. Ele permite o acesso a importantes serviços de inclusão digital, como, por exemplo, o acesso a informações de emprego, cursos de capacitação, saúde, dentre outros. Outro serviço útil é fornecido pelo Ministério do Desenvolvimento Social, com aplicação do Bolsa Família, que permite o acesso de informações aos seus beneficiários, como data de pagamento do benefício. Há ainda um do Ministério da Cultura, chamado Quero ver cultura, que oferece o acesso diferentes filmes nacionais utilizando a transmissão digital. Alguns desses serviços foram desenvolvidos pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação) no internacionalmente premiado projeto Brasil 4D. Já nas emissoras privadas, a interação é mais superficial: o Ginga é atualmente utilizado como veículo de informações complementares ao audiovisual, por exemplo, o quadro de medalhas durante as olimpíadas e informações de últimos capítulos de uma novela.

Além da portaria já aprovada, existe também uma discussão que prevê a distribuição de mais 12,4 milhões de conversores para pessoas inscritas no Cadastro Único (iniciativa do Governo Federal que identifica famílias de baixa renda), também apenas nas cidades grandes. O problema, neste caso, é que, diferente dos entregues às pessoas que recebem Bolsa Família, esses novos receptores não terão interatividade alguma, o que não permitiria nenhum serviço de inclusão social para os integrantes do Cadastro Único.

A EBC, lutando contra tal absurdo, durante a reunião do GIRED, se opôs à diferença de receptores para famílias do Cadastro Único. Em nova proposta, estabeleceu que todos os receptores distribuídos incluiriam o Ginga C, porém com configurações mais enxutas, para caber no orçamento da entidade. Esperamos que pelo menos no que se refere à interatividade — diferente da posição ante o atraso no cronograma — o Governo possa ter um discurso consistente com o do presidente Lula, à época que decretou a criação do SBTVD, e com o compromisso firmado pelo Ministro das Comunicações anterior, Ricardo Berzoini, em 2015, que afirmou que a distribuição de receptores com interatividade era uma ação importante na promoção de inclusão social.

Fonte: FNDC

Tagged with:
mar 08

TV Digital: Dólar alto aumenta pressão por conversor mais barato

receptor Comentários desativados em TV Digital: Dólar alto aumenta pressão por conversor mais barato

Com o argumento de que a alta do dólar teve impacto direto nos custos da digitalização, governo, teles e emissoras de televisão já discutem configurações alternativas para o conversor a ser distribuído aos brasileiros mais pobres. Algumas propostas discutidas nesta quarta, 17/2, sugerem que o objetivo é cortar o preço do equipamento em um terço.

Por aqui, a configuração aprovada ainda no ano passado está na casa dos R$ 160 por unidade. Existe uma razoável pressão dentro do grupo de implementação da digitalização, o Gired, por um aparelho mais parecido com um mero seletor de canais, ou zapper, no jargão – que custa a metade da configuração ‘oficial’.

Formalmente, no entanto, a busca é por um equipamento que fique no meio termo entre esse dois modelos. Algo não muito acima dos R$ 100. Para tanto, os envolvidos tentam reconstruir a configuração, na prática retirando componentes (e consequentemente funções) do que já foi aprovado pelo Gired. Mas não houve decisão e uma nova reunião do grupo focado no conversor já está prevista.

A EAD, empresa que funciona como braço operacional da digitalização, comprou até aqui cerca de 530 mil conversores – de um universo, em tese, de 14 milhões a serem distribuídos aos beneficiários do Bolsa Família. Além de Rio Verde-GO e Brasília, dá para atender parte de São Paulo, que tem desligamento previsto para 29/3/17.

Vale lembrar que já foi turbulenta a definição da configuração mínima do conversor que deve ser distribuído ao Bolsa Família (e que pode ou não ser estendido a todo o Cadastro Único de Programas Sociais). Houve (e há) resistência aos recursos de interatividade e o equipamento sequer conta com canal de retorno. E com a alta do dólar o uso do Ginga, por exemplo, fica ainda mais na berlinda.

Fonte: Convergência Digital

Tagged with:
preload preload preload